As malformações congênitas do útero e vagina são relativamente comuns, podendo ser observadas em cerca de 2% da população feminina e em até 7% das mulheres com abortamentos de repetição.
A suspeita clínica pode começar ainda na adolescência através de queixas de dor pélvica, dor abdominal e ausência de menstruação. Na fase adulta, já na idade reprodutiva, a ocorrência de abortamentos de repetição, parto prematuro, anormalidades na implantação da placenta e retardos de crescimento intra-uterino sugerem este diagnóstico.
Além do exame físico e de história clínica minuciosa, o diagnóstico por imagem é crucial para confirmar a existência de alguma malformação, bem como para fornecer um mapeamento anatônico detalhado, necessário para o aconselhamento clínico e planejamento terapêutico.
Os métodos de imagem mais utilizados são a histerossalpingografia, a ultrassonografia transvaginal 3D e a ressonância magnética.
A histerossalpingografia é um exame radiológico onde se utiliza um contraste iodado, injetado através de um cateter posicionado no colo do útero, com o objetivo de demonstrar a cavidade uterina e as trompas. Ainda é um método muito utilizado na propedêutica da paciente infértil, com o principal intuito de verificar o funcionamento das tubas uterinas. Para a investigação de malformações do útero possui como principal limitação a não visualização do contorno externo do fundo uterino, já que apenas a cavidade é opacificada pelo meio de contraste. Isso não permite, por exemplo, a diferenciação entre útero arqueado, subseptado e bicorno. Este exame é também limitado para malformações onde existem cavidades exclusas ou não comunicantes, como por exemplo no útero unicorno com um corno rudimentar.
A ultrassonografia transvaginal 3D é um método de excelente acurácia, pouco invasivo, de rápida realização e de menor custo quando comparado a uma ressonância magnética. Consiste na realização de uma ultrassonografia transvaginal no modo bidimensional, associada a aquisição de volumes 3D que poderão ser pós-processados com o objetivo de reconstruir as imagens em diferentes planos anatômicos. O plano coronal verdadeiro do útero e do colo é fundamental para a análise da anatomia e diagnóstico das malformações, sendo o o contorno externo do útero bem identificado através deste método. Os equipamentos mais modernos permitem a aquisição de belas imagens em 3D de forma bem rápida e com mínima necessidade de pós-processamento, possibilitando um diagnóstico preciso e sem a necessidade de complementação com ressonância magnética. Um detalhe importante a ser observado é que o exame deve ser realizado, de preferência, na 2ª fase do ciclo menstrual, ou seja, após a ovulação, pois o endométrio (revestimento interno do útero) estará mais espesso, tornando as imagens mais elucidativas.
A ressonância magnética da pelve (RM) é considerada o método padrão ouro para o diagnóstico das malformações útero-vaginais pois suas imagens são de elevada resolução anatômica, possibilitando o diagnóstico inclusive de malformações complexas e raras. Através da RM é possível se identificar cavidades exclusas, septadas, repletas de sangue ou associadas a malformações do sistema urinário. Assim como para as demais indicações, é necessário um protocolo específico, que inclui desde um preparo intestinal (para melhorar a qualidade das imagens e minimizar os artefatos); a programação de sequências específicas para o estudo da anatomia uterina, bem como a interpretação das imagens por um especialista em imagem da mulher. A RM é o método de escolha em pacientes na fase pré-puberal e puberal (virgens).
A malformação uterina mais frequente é o útero septado (55% dos casos) e está associada ao maior número de complicações obstétricas, principalmente os abortamentos de repetição. O defeito consiste na presença de um septo que divide a cavidade uterina em duas partes. Pode ser completo ou parcial, sendo então chamado de útero subseptado. A correção do septo através de histeroscopia reduz de forma significativa a ocorrência dos abortamentos. Este diagnóstico pode ser facilmente obtido através da ultrassonografia transvaginal 3D e da RM de pelve. A obtenção de imagens coronais verdadeiras do útero é a chave para este diagnóstico, já que no útero septado o fundo uterino apresenta fusão completa e aspecto convexo ou ligeiramente plano, enquanto no útero bicorno há uma fenda fúndica com profundidade superior a 1,5 cm.
Portanto, a interação clínico-radiológica é fundamental para que se obtenha o máximo dos métodos utilizados, seja pela indicação do melhor exame para o diagnóstico, seja para que se aplique o protocolo de imagem mais adequado, minimizando o tempo de espera até o diagnóstico correto e as complicações associadas a estas malformações.
5 comentários:
Boa tarde Dra. Luciana.
Já fiz uma ultrassonografia em 2014 em seu consultório, sou portadora de endometriose e adenomiose.
Acontece que fiz outra esse ano, e no laudo constou um cisto com septo interno no ovário esquerdo.
Meu retorno é pra daqui alguns dias. A Dra. saberia me dizer o que significa esse termo?
Desde já agradeço pela atenção.
Laís Severino
Boa tarde Dra. Luciana.
Já fiz uma ultrassonografia em 2014 em seu consultório, sou portadora de endometriose e adenomiose.
Acontece que fiz outra esse ano, e no laudo constou um cisto com septo interno no ovário esquerdo.
Meu retorno é pra daqui alguns dias. A Dra. saberia me dizer o que significa esse termo?
Desde já agradeço pela atenção.
Laís Severino
Ola Lais,
Como vai?
Cistos ovarianos são bastante frequentes e na grande maioria relacionados a alterações funcionais do ciclo menstrual. A princípio não parece nada grave para você se preocupar, mas leve o exame para o seu ginecologista, que poderá ver as imagens e julgar se há necessidade de algum exame complementar
Boa sorte
Um abraço
Luciana
Olá. Fiz um USENDOVAGINAL detectando útero septado. Septo de aproximadamente 1cm. Quero muito engravidar e estou preocupada agora. Septo deste tamanho tem que fazer cirurgia? Obrigado. Mariana
Bom dia gostaria de saber porque eu fiz a cirurgia da retirada do septo uterino e na ultrassonografia vaginal a doutora me disse que meu útero ainda parece ser bicorno ou didelfo? Será possível isso
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